(Fernanda Odilla /Estado de
Minas)
A
silenciosa “invasão dos bichos” pode ser creditada a
muitos criadores e moradores da capital e da região
metropolitana, que transformaram a Pampulha num
verdadeiro “bota-fora" de cágado-de-barbicha,
tartaruga-de-orelha-vermelha, tilápias, peixes da
espécie beta e outras criações não mais desejadas. Não
há estudos sobre as espécies exóticas e invasoras da
lagoa, mas ambientalistas são categóricos em dizer que
os impactos podem ser irreversíveis.
“As pessoas
acham que estão fazendo um bem à natureza ao jogar uma
espécie qualquer na lagoa. Soltar em qualquer lugar é um
perigo”, alerta Carlayle Mendes, diretor do Zoológico,
avisando que animais silvestres devem ser entregues à
Polícia Militar do Meio Ambiente ou ao Ibama. “Quando a
pessoa se prontifica, não é punida por não ter
autorização para criar determinado animal”, assegura
Carlayle.
O perigo não apenas invadiu como já se
prolifera na Pampulha. “Os melhores exemplos de espécies
exóticas e invasoras, que contribuem até mesmo para a
poluição da água, são os aguapés e as tilápias”, explica
o biólogo Ricardo Pinto Coelho. Sempre famintas, as
tilápias – nativas do continente africano e da Ásia
Menor – venceram a competição com outros peixes e hoje
reinam absolutas, colaborando para deixar a água da
lagoa ainda mais turva. Nem mesmo as iscas e destreza de
pescadores, como Eduardo Gomes, de 28 anos, são capazes
de conter a proliferação das tilápias.
O Ibama
já tem notícia de que um novo cardume foi jogado na
lagoa, sem autorização. Daniel Vilela, chefe de Fauna
Silvestre do órgão, conta que mais de 5 mil betas,
peixes originários da Tailândia, nadam na lagoa há pelo
menos dois meses. “A pessoa que as jogou encheu a boca
para dizer que queria acabar com pernilongos. O grande
problema é que, além de competir por alimentos, as
espécies invasoras da Pampulha podem descer para o rio
das Velhas e chegar ao São Francisco, carregando o risco
do desequilíbrio ecológico”, avalia Vilela.
Mistério Mas os pernilongos, que
tanto perturbam os moradores da região, encontram
refúgio nos invencíveis aguapés, que também protegem as
tilápias. Até hoje, ninguém sabe explicar como essa
planta aquática da América do Norte invadiu a Pampulha,
ainda na década de 80. Mas como o esgoto insiste em
desaguar na lagoa, o aguapé encontrou ambiente fértil
para se multiplicar em grandes proporções. Para
controlá-lo é preciso uma barreira de contenção e de 20
homens, munidos de pás, trator, caminhão e barco, que
recolhem diariamente 4 mil quilos da planta.
O
biólogo Ricardo Pinto Coelho alerta para outras duas
espécies vegetais exóticas que invadiram a lagoa. As
poligônias já estão próximas da Igreja de São Francisco.
E as gramíneas africanas disputam com o aguapé espaço
próximo à estação de tratamento de esgoto. Em outro
importante ponto da orla, o Museu de Arte da Pampulha,
são os cágados que roubam a cena colocando a cabeça para
fora da água, caminhando lentamente pelo mato e até
ousando atravessar a rua, conforme relatos de quem
trabalham no local.
As pequenas
tartarugas-de-orelha-vermelha, da América do Norte,
depois que crescem exigem cuidados redobrados dos donos.
Elas são, também, abandonadas na lagoa, onde competem
por insetos e larvas com outras espécies. “A Pampulha é
o lugar mais visado para ser o novo lar de quem desiste
de seus animais aquáticos”, afirma o pesquisador Gilmar
Bastos Santos, lembrando que as capivaras e o
jacaré-de-papo-amarelo, que por vezes dão o ar da graça,
não chegaram ali por acaso.