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Pedro da Cunha e Menezes mailto:editor@oeco.com.br
Membro da UICN Brasil, Especialista em Unidades de Conservação urbanas. Ex-Diretor Executivo do Parque Nacional da Tijuca.
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Quando o ambientalismo enfia o pé na jaca!

02.10.2006

Em 2000 começou tímido no Parque Nacional da Floresta da Tijuca um projeto de erradicação de espécies exóticas. Seu alvo principal era as jaqueiras que estavam se multiplicando em uma velocidade espantosa, tornando-se invasoras e roubando espaço a plantas nativas do Rio de Janeiro.

Poucos freqüentadores da Floresta sabem que, embora tenha esse jeitão tão brasileiro, a jaqueira é uma espécie originária da Ásia. Chegou ao Brasil nas caravelas portuguesas que navegavam entre os portos do Atlântico e as colônias de Timor, Goa e Macau. Aqui plantada, não teve dificuldade em aclimatar-se no calor úmido e fez da Mata Atlântica sua casa.

Com efeito, adaptou-se tão bem que logo começou a espalhar-se sozinha não mais carecendo de jardineiro para plantá-la nem regá-la. A própria jaca madura ao cair no chão se espatifa, espalhando pelo solo incontáveis sementes que, a seu turno, germinam transformando-se em novas árvores. Por outro lado, quatis, esquilos e macacos atuam como agentes dispersores, carregando outras sementes a locais mais afastados. Nesse processo, o jaqueiral avança, roubando espaço à floresta nativa da Guanabara. Hoje, no Parque Nacional, várias áreas já têm aparência de monucultura de jacas.

Ainda assim, devo confessar que, a princípio, tive minhas dúvidas sobre o projeto. Afinal, em um Parque cujo decreto de criação comemora o centenário de um hercúleo esforço de reflorestamento, o que é nativo? A Mata Atlântica ou as espécies plantadas pelo Major Archer e seus seis escravos? Fora isso, tinha minhas dúvidas sobre as conseqüências da supressão de uma espécie frutífera para a dieta da fauna.

O projeto, entretanto tem estofo. Seus idealizadores, os engenheiros florestais Luiz Fernando Lopes e Henrique Guerreiro, sabem o que estão fazendo. O problema não é a jaqueira em si, mas sua multiplicação descontrolada em detrimento da Mata Atlântica.

Para estancar esse cresimento desordenado começaram, então, a anelar algumas jaqueiras asfixiando-as até provocar sua morte. Até aí tudo bem. A história dos dois não é nova –já foi noticiada inclusive aqui em O Eco - nem é singular. Programas para erradicação de espécies exóticas são comuns no mundo inteiro. Para citar apenas exemplos de parques nacionais urbanos, cuja realidade é similar à da Tijuca, há processos do gênero sendo executados em Sydney e na Cidade do Cabo.

Na maior cidade da Oceania, o cervo rusa, natural da Ilha de Java, introduzido há mais de cem anos no Royal National Park, está sendo abatido a tiros. No extremo oposto de Sydney, na áreas naturais do subúrbio de Wilhoughby, todos os dias grupos de voluntários se reúnem com enxadas, foices, tesourões e ancinhos. Passam horas removendo espécies exóticas da vegetação dos Parques e Reservas de sua vizinhança. O objetivo é retorná-los ao seu estado nativo primitivo, apenas com espécies australianas.

Já no Parque Nacional da Montanha da Mesa, na Cidade do Cabo, as florestas de eucalipto e pinheiro estão sendo postas abaixo por um grande programa de erradição de exóticas. Seu objetivo é substituir essas árvores oriundas da Europa e da Austrália pela vegetação floral conhecida como fynbos, nativa da área e ameaçada de extinção.

Tanto na Austrália, quanto na África do Sul, há oposição às medidas. Os sul-africanos estão bem organizados e contam até com uma página na internet.

Também na internet começou a oposição ao projeto Guerreiro de Lópes. Uma senhora mais do que bem intencionada- pois pensa a causa ambiental com o coração- começou a reclamar do anelamento em algumas comunidades do Orkurt dedicadas à Floresta. Suas preocupações, sempre pela internet, foram logo explicadas pela dupla de engenheiros. Lopes e Guerreiro responderam explanando o mal que as exóticas fazem a um Parque Nacional e contando os objetivos do projeto sob sua batuta. Entre os argumentos que elencaram, explicaram que estão plantando árvores frutíferas da Mata Atlântica para substituir o vácuo deixado pelas jacas e garantindo assim fonte permanente de alimentação para os micos, quatis e outros animais que hoje fazem da fruta asiática parte de sua dieta regular.

Foram educados e claros. Estão fazendo aquilo que a sociedade os paga para fazer: manejo. Não convenceram. A senhora manteve-se firme no propósito de impedir que o Parque Nacional da Floresta da Tijuca seja manejado como pede a legislação em vigor e apresentou denúncia na Polícia Federal, logo seguida de uma ação civil pública. Até que sejam apurados os fatos pelas autoridades competentes, a senhora conseguiu seu objetivo: desviou os engenheiros florestais do mato, onde realizavam trabalho digno de nota, para uma mesa de escritório onde têm gastado algumas horas preparando sua defesa.

É pena, mas não há de ser nada. A ação civil, ainda que retarde o trabalho na Floresta da Tijuca, tem o mérito de colocar o tema em discussão e mostrar ao grande público a importância da eliminação de espécies exóticas em Parques Nacionais. O resto é histericologia.






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