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18/07/2003 ESPÉCIES EXÓTICAS
AMEAÇAM BIODIVERSIDADE NO SUL DO PAÍS, DIZ ENGENHEIRA FLORESTAL
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As últimas florestas
preservadas do Paraná estão sendo ameaçadas por um inimigo
silencioso. As plantas e animais nativos estão perdendo espaço e
sendo substituídos por exemplares provenientes de outros
ecossistemas, as chamadas espécies exóticas. A invasão biológica é
apontada pelos ambientalistas como sendo a segunda maior causa de
perda de biodiversidade na Natureza, ficando somente atrás das
ocupações humanas diretas, para fins agrícolas e urbanos. As
espécies exóticas invasoras competem com as espécies nativas por
espaço, aumentam o risco de dispersão de parasitas e doenças e põem
em risco o frágil equilíbrio ecológico.
No Parque Estadual de
Vila Velha, em Ponta Grossa (PR), foi necessário realizar um
processo de "desinfecção biológica". Árvores como pinus e "uva do
Japão" estavam infestando o local, tomando o lugar de araucárias,
cedros e outras espécies. Para preservar a mata nativa, esses
"invasores" tiveram de ser cortados. A decisão foi polêmica, pois a
população não está acostumada a aceitar passivamente a derrubada de
árvores, especialmente dentro de um parque estadual.
A maior
dificuldade para a implantação de políticas específicas de combate
às espécies invasoras é mudar a idéia equivocada que grande parte
das pessoas tem sobre ecologia. Dificilmente alguém desconfia que
uma simples plantinha ou um animalzinho fofo podem causar danos à
Natureza. Diferentemente do que pensa a maioria, nem toda planta ou
animal é importante para o meio ambiente e precisa ser protegido.
Essa afirmação é verdadeira se essas espécies têm uma função
construtiva dentro do ecossistema.
"Mais da metade das
espécies invasoras foi voluntariamente introduzida", afirma a
engenheira florestal Sílvia Ziller, presidente do Instituto Hórus de
Desenvolvimento e Conservação Ambiental e assessora do The Nature
Conservancy (ONG internacional para conservação da Natureza). A
maior parte das plantas exóticas é trazida para suprir necessidades
agrícolas, florestais ou paisagísticas. Muitas delas não se adaptam,
mas Sílvia explica que uma pequena parte dessas espécies sobrevive,
se adapta, se reproduz em grande quantidade e começa a tomar o lugar
das espécies nativas. Nesse momento, ela deixa de ser apenas uma
exótica e passa a ser uma espécie invasora.
O capim annoni,
por exemplo, vindo da África do Sul, foi introduzido para ser usado
como grama e alimento do gado. Entretanto, ele é muito fibroso e os
animais não conseguiam comê-lo. O capim se proliferou e hoje ocupa
mais de 500 mil hectares no Rio Grande do Sul, com elevados
prejuízos para a produção pecuária. O annoni já se espalha por quase
todo o Paraná, especialmente nas áreas de pasto e beira de
estradas.
Outro exemplo negativo é o do caramujo gigante
africano, introduzido no país em 1988 como alternativa para o
cultivo de escargot. Como não tinha inimigos naturais, os caramujos
se espalharam por todo o litoral paranaense. Alguns veranistas
acharam o bicho bonito e o levaram para o interior. Atualmente, ele
se proliferou também em Maringá (PR), Foz do Iguaçu (PR) e outras
cidades. O problema é que o caramujo gigante é transmissor de um
verme que paralisa o sistema nervoso central com extrema gravidade e
é uma praga na agricultura.
Em Foz do Iguaçu, existe outra
espécie exótica que está dando muita dor de cabeça às autoridades e
prejuízo às empresas: o mexilhão dourado, que foi introduzido
acidentalmente na América do Sul, trazido do Sudoeste Asiático na
água de lastro dos navios. Ele se impregna nas grades protetoras das
entradas de água para as turbinas da hidrelétrica de Itaipu. Segundo
a direção da empresa, os moluscos não afetam a geração de energia,
mas aumentaram os custos de manutenção e limpeza dos equipamentos.
As empresas de saneamento também sofrem, pois os mexilhões obstruem
as tubulações de captação de água. (Gazeta do Povo)
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