16/05/2005 - 09h17
Espécies exóticas invasoras atacam áreas de
conservação
THIAGO
GUIMARÃESda
Agência Folha Consideradas a
segunda causa de redução da biodiversidade no mundo, atrás apenas da
perda de habitats por intervenção humana, as espécies exóticas
invasoras estão presentes em pelo menos 103 unidades de conservação
do Brasil, espalhadas por 17 Estados e pelo Distrito Federal. É o
que aponta um levantamento sobre a presença dessa ameaça no
país.
Unidades de conservação são áreas federais, estaduais
ou municipais com características naturais relevantes, legalmente
instituídas e com limites definidos, às quais se aplicam normas de
proteção. Não há um levantamento completo dessas unidades no país,
apenas dados recém-divulgados sobre as 651 áreas homologadas pelo
governo federal, que somam 56 milhões de hectares.
O
levantamento das invasoras, inédito no país, é da ONG Instituto
Hórus, de Curitiba (PR).
Em fase de conclusão, o diagnóstico
integra um projeto de informes nacionais sobre o problema,
financiado pelo Ministério do Meio Ambiente.
As espécies
exóticas invasoras são organismos (fungos, plantas e animais, assim
como seres vivos microscópicos) que se encontram fora da sua área
natural de distribuição, por dispersão acidental ou
intencional.
Por meio do processo denominado contaminação
biológica, elas se naturalizam e passam a alterar o funcionamento
dos ecossistemas nativos (veja quadro abaixo). Historicamente, o
maior responsável por seu aparecimento é a colonização européia nos
demais continentes.
As campeãs de invasões, segundo o
levantamento, são as plantas coníferas do gênero Pinus, introduzidas
no Brasil para produção de madeira de reflorestamento. Identificadas
em 35 UCs (unidades de conservação) das regiões Sul e Sudeste, são
espécies que podem alterar a acidez dos solos e inviabilizar a
sobrevivência de animais, entre outros impactos.
E o vento
levouAs espécies de Pinus têm grande facilidade de
germinação, pois produzem muitas sementes, disseminadas pelo vento.
"Elas ocupam o espaço de outras espécies e não geram alimento para a
fauna, o que desequilibra o ecossistema", afirma a engenheira
florestal Sílvia Ziller, do Instituto Hórus.
As outras
líderes do ranking de invasões são o capim braquiária e o cachorro
(15 UCs), o capim gordura e o eucalipto (13), o lírio-do-brejo (10),
a jaca (8) e a uva-do-japão (8). Também figuram na lista animais
como búfalo (6), caramujo-gigante-africano (5) e javali
(4).
No caso do javali, principal ancestral do porco
doméstico, a invasão foi pela fronteira sudoeste do Rio Grande do
Sul com o Uruguai, para onde ele foi levado por europeus. Uma
hipótese é que a introdução tenha ocorrido em 1989, após estiagem
que baixou muito o leito do rio Jaguarão, que delimita a
fronteira.
O caramujo-gigante-africano, molusco terrestre do
nordeste da África, entrou ilegalmente no Brasil na década de 1980,
como alternativa à criação de escargot.
Entre os principais
prejuízos causados pelo javali estão danos a culturas agrícolas,
ataque a animais de criação e transmissão de doenças (leptospirose,
febre aftosa). O caramujo-gigante-africano destrói plantações e
também pode transmitir moléstias, como a angiostrongilíase (infecção
causada por parasita e que pode levar crianças à morte).
"A
tônica do combate é a mesma para todas as invasoras: uma vez
instalada, não dá para erradicar", afirmou o biólogo André Deberdt,
da Coordenação Geral de Fauna do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis).
Ataque ao
pampaDeberdt cita o capim-anoni como invasora
problemática: a gramínea africana já infestou cerca de 3,5 milhões
de hectares de pastagens nativas gaúchas. No levantamento, o anoni
aparece em duas UCs, uma no Paraná e outra no Rio Grande do
Sul.
Cerca de 180 espécies de fauna e flora já entraram no
levantamento, a partir do qual serão gerados mapas de distribuição
das invasoras no país. A ameaça já foi identificada, por exemplo, em
14 parques nacionais.
Como o levantamento ainda está em
curso, o número de invasoras deverá crescer. Ainda falta reunir
dados de Estados como Amazonas, Tocantins e Piauí, para apresentação
final em outubro, em simpósio nacional que acontecerá em Brasília
sobre o tema.
Especial
Leia
o que já foi publicado sobre unidades de conservação