Consideradas a segunda
causa de redução da biodiversidade no mundo, atrás apenas da perda
de habitats por intervenção humana, as espécies exóticas invasoras
estão presentes em pelo menos 103 unidades de conservação do Brasil,
espalhadas por 17 Estados e pelo Distrito Federal. É o que aponta um
levantamento sobre a presença dessa ameaça no país.
Unidades
de conservação são áreas federais, estaduais ou municipais com
características naturais relevantes, legalmente instituídas e com
limites definidos, às quais se aplicam normas de proteção. Não há um
levantamento completo dessas unidades no país, apenas dados
recém-divulgados sobre as 651 áreas homologadas pelo governo
federal, que somam 56 milhões de hectares.
O levantamento das
invasoras, inédito no país, é da ONG Instituto Hórus, de Curitiba
(PR). Em fase de conclusão, o diagnóstico integra um projeto de
informes nacionais sobre o problema, financiado pelo Ministério do
Meio Ambiente.
As espécies exóticas invasoras são organismos
(fungos, plantas e animais, assim como seres vivos microscópicos)
que se encontram fora da sua área natural de distribuição, por
dispersão acidental ou intencional.
Por meio do processo
denominado contaminação biológica, elas se naturalizam e passam a
alterar o funcionamento dos ecossistemas nativos. Historicamente, o
maior responsável por seu aparecimento é a colonização européia nos
demais continentes.
As campeãs de invasões, segundo o
levantamento, são as plantas coníferas do gênero Pinus, introduzidas
no Brasil para produção de madeira de reflorestamento. Identificadas
em 35 UCs - Unidades de Conservação das regiões Sul e Sudeste, são
espécies que podem alterar a acidez dos solos e inviabilizar a
sobrevivência de animais, entre outros impactos.
As espécies
de Pinus têm grande facilidade de germinação, pois produzem muitas
sementes, disseminadas pelo vento. "Elas ocupam o espaço de outras
espécies e não geram alimento para a fauna, o que desequilibra o
ecossistema", afirma a engenheira florestal Sílvia Ziller, do
Instituto Hórus.
As outras líderes do ranking de invasões são
o capim braquiária e o cachorro (15 UCs), o capim gordura e o
eucalipto (13), o lírio-do-brejo (10), a jaca (8) e a uva-do-japão
(8). Também figuram na lista animais como búfalo (6),
caramujo-gigante-africano (5) e javali (4).
No caso do
javali, principal ancestral do porco doméstico, a invasão foi pela
fronteira sudoeste do Rio Grande do Sul com o Uruguai, para onde ele
foi levado por europeus. Uma hipótese é que a introdução tenha
ocorrido em 1989, após estiagem que baixou muito o leito do rio
Jaguarão, que delimita a fronteira.
O
caramujo-gigante-africano, molusco terrestre do nordeste da África,
entrou ilegalmente no Brasil na década de 1980, como alternativa à
criação de escargot.
Entre os principais prejuízos causados
pelo javali estão danos a culturas agrícolas, ataque a animais de
criação e transmissão de doenças (leptospirose, febre aftosa). O
caramujo-gigante-africano destrói plantações e também pode
transmitir moléstias, como a angiostrongilíase (infecção causada por
parasita e que pode levar crianças à morte).
"A tônica do
combate é a mesma para todas as invasoras: uma vez instalada, não dá
para erradicar", afirmou o biólogo André Deberdt, da Coordenação
Geral de Fauna do Ibama - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e
dos Recursos Naturais Renováveis.
Deberdt cita o capim-anoni
(Eragrostis spp.) como invasora problemática: a gramínea
africana já infestou cerca de 3,5 milhões de hectares de pastagens
nativas gaúchas. No levantamento, o anoni aparece em duas UCs, uma
no Paraná e outra no Rio Grande do Sul.
Cerca de 180 espécies
de fauna e flora já entraram no levantamento, a partir do qual serão
gerados mapas de distribuição das invasoras no país. A ameaça já foi
identificada, por exemplo, em 14 parques nacionais.
Como o
levantamento ainda está em curso, o número de invasoras deverá
crescer. Ainda falta reunir dados de Estados como Amazonas,
Tocantins e Piauí, para apresentação final em outubro, em simpósio
nacional que acontecerá em Brasília (DF) sobre o tema. (Thiago
Guimarães/Folha Online)
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